Caríssimos, nesta semana,
voltamos à nossa coluna sobre Teologia do
Corpo. Nesta série, queremos apresentar o ensino do Magistério sobre o
sentido da sexualidade no plano de Deus. O presente post tratamos da unidade original entre
homem e mulher. Outras postagens que tratam do assunto podem ser lidas aqui e aqui .
“As palavras do livro do Gênesis “não é conveniente que o homem
esteja só” (Gn 2,18) são quase um
prelúdio da narrativa da criação da mulher. Com esta narrativa, o sentimento da solidão original entra
a fazer parte do significado da unidade original, cujo ponto-chave parecem ser
precisamente as palavras de Gênesis 2, 24, a que se refere Cristo na sua
conversa com os fariseus: “O
homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só
carne” (Mt 19,5). Se Cristo,
referindo-se ao ‘princípio’, cita estas palavras, convém-nos precisar o significado dessa unidade original, que mergulha
as raízes no fato da criação do homem como macho e fêmea.
A narrativa do capítulo primeiro do Gênesis não conhece o problema
da solidão original do homem: o homem, de fato, desde o princípio é “macho e
fêmea”. O texto javista do capítulo segundo, pelo contrário, autoriza-nos em
certo modo a pensar primeiro, somente no homem enquanto, mediante o corpo,
pertence ao mundo visível, mas ultrapassando-o; depois, faz-nos pensar no mesmo
homem, mas através da duplicidade do sexo. Corporeidade e sexualidade não se
identificam completamente. Embora o
corpo humano, na sua constituição normal, traga em si os sinais do sexo e seja,
por sua natureza, masculino ou feminino, todavia o fato de o homem ser ‘corpo’
pertence à estrutura do sujeito pessoal mais profundamente que o fato de ele
ser na sua constituição somática também macho ou fêmea. Por isso, o
significado da solidão original, que pode referir-se simplesmente ao ‘homem’, é
substancialmente anterior ao significado da unidade original; esta última, de
fato, baseia-se na masculinidade e na feminilidade, quase como sobre duas
diferentes ‘encarnações’, isto é, sobre dois modos de ‘ser corpo’ do mesmo ser
humano, criado à imagem de
Deus (cf. Gn 1,27). [...]
Assim
pois, Deus-Javé diz: “Não é conveniente
que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,18).
[...] A seguir lemos: “Então o Senhor
Deus adormeceu profundamente o homem; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das
costelas, cujo lugar preencheu de carne. Da costela que retirara do homem, o
Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem” (Gn 2,21-22). [...]
A mulher é feita “com a costela” que
Deus-Javé tirara ao homem.
Considerando o modo arcaico, metafórico e imaginoso, de exprimir o pensamento, podemos estabelecer tratar-se aqui de
homogeneidade de todo o ser de ambos; tal homogeneidade diz respeito sobretudo
ao corpo, à estrutura somática, e é confirmada também pelas primeiras palavras
do homem à mulher recém-criada: “Esta é realmente o osso dos meus ossos e a carne da minha
carne” (Gn 2, 23)[1]. Apesar disso, as palavras citadas
referem-se também à humanidade do homem-macho. Devem ler-se no contexto das
afirmações feitas antes da criação da mulher, nas quais, embora não existindo
ainda a ‘encarnação’ do homem, ela é definida como “auxiliar semelhante a ele”
(cf. Gn 2,
18.20). Assim, pois, a mulher foi criada, em certo sentido, sobre a base da
mesma humanidade.
A
homogeneidade somática, não obstante a diversidade da constituição
ligada à diferença sexual, é tão evidente que o homem (macho), despertando do
sono genético, a exprime imediatamente, ao dizer: “Esta
é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher,
visto ter sido tirada do homem” (Gn 2,23). Deste modo o homem (macho) manifesta pela
primeira vez alegria e até exaltação, de que anteriormente não tinha motivo,
por causa da falta dum ser semelhante a si. A alegria para o outro ser humano,
para o segundo ‘eu’, domina nas palavras do homem (macho) pronunciadas à vista
da mulher (fêmea). Tudo isto ajuda a estabelecer o significado pleno da unidade
original”.
[beato João Paulo II, Alocução ‘L’unità originaria’, 07.XI.1979].
[1]
É
interessante notar que para os antigos Sumérios o sinal aunei forme para
indicar o substantivo ‘costela’ era o mesmo que indicava a palavra ‘vida’.
Quanto, portanto, à narrativa javista, segundo certa interpretação de Gn. 2, 21, Deus cobre
a costela de carne (em vez de cicatrizar a carne no seu lugar) e deste modo
«forma» a mulher, que tem origem da «carne e dos ossos» do primeiro homem
(macho). Na linguagem bíblica esta é uma definição de consaguineidade ou
incorporação na mesma descendência (por exemplo, cf. Gn. 29, 14): a mulher pertence à mesma espécie do
homem, distinguindo-se dos outros seres vivos anteriormente criados.
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