[Continuamos com a série de textos do Dr. Aquilino Polaino-Lorente, sobre o processo de autoidentificação homossexual. Muitos irmãos e irmãs que lutam contra a atração pelo mesmo sexo (AMS) encontrarão aqui elementos que conectarão com a própria experiência de vida. Os que não enfrentam tal batalha, terão oportunidade para conhecer melhor um pouco do drama que enfrenta uma pessoa que luta contra AMS e como ajudá-la. Veja a parte anterior aqui].
Terceira
etapa: o apelido assinado pelos companheiros
Esta etapa é de vital importância, por
quanto nela acontece a configuração do apelido assinado pelas pessoas da mesma
idade. O cenário natural costuma ser a sala de aula do colégio onde freqüenta.
Costuma bastar com que outro companheiro
– provavelmente muito “gracioso” e que costuma estar mais “adiantadinho” nesta
matéria-, comente com outro: “Parece uma menina: cruza sempre as pernas; os
tios se escarrapacham-se e abrem as pernas. Este não joga bola nunca, é como as
meninas”. Com isto tem começado a funcionar o apelido assinado pelos
companheiros que, com toda probabilidade, é o que mais importa ao menino.
A notícia se espalha e sem ser
conscientes das conseqüências que geram estas qualificações, talvez outro
companheiro em um momento em que se aborrece com ele o alfinete: Menina...!,
que é uma menina”.
Perante uma desqualificação como
esta,qual é a conduta a seguir? O que se espera culturalmente que faça um
varão? No que se refere a nossa cultura, o comum é que defenda sua virilidade e
busque brigar com quem assim o ofendeu.
Se o ofendido se cala, se opta por não
responder o insulto, o juízo social que dele farão seus companheiros – e que,
de alguma forma, ficará arquivado na cabeça de todos eles – é que se parece
mais com uma menina do que com um menino.
Ao não se defender, confirma, de certo
modo, a respeito de seus acusadores que efetivamente seu comportamento se
assemelha mais ao das meninas que ao dos meninos. O que se espera de um menino,
nestas circunstâncias, é que se enrole a golpes com seus ofensores, pouco
importa que sejam um ou mais. Mas como não se lançou na briga, a configuração
social – neste caso escolar – do apelido que se há feito, adquire uma maior
densidade e, o que é pior, se estende a toda a sala, quer dizer, se generaliza
entre seus iguais.
O que acontecerá se ao final de dois
meses toda a classe o chamar de “Manolita”? Ele brigará e declarará guerra
agora a seus trinta companheiros, quando antes o fez com somente um deles? Não;
simplesmente aguentará.
Mas ele mesmo de dá conta de que seu modo
de responder não é o apropriado ou o usual entre os homens. O que com ele
acrescenta é uma nova diferença – por outra parte, muito significativa – às
diferenças que, provisoriamente, havia já antes experimentado. É aqui a
conseqüência falta de um engano pesado, que não deveria se admitir em nenhum
caso e que, no entanto, todavia se tolera em alguns contextos escolares.
Quarta
etapa: o conflito familiar sobre o modo de se conduzir
Nesta situação de confusão incipiente da
identidade de gênero, suponhamos que um dia conte à sua mãe o que se passou no
colégio. É muito possível que sua mãe vá ao colégio e fale com o tutor. É
possível que a mãe não o aconselhe a resolver em socos. Este último será o
conselho que seu pai dê a ele, apenas seja informado por sua mulher do que se
passou.
Mas quando o pai sugere essa estratégia
para solucionar o problema, o menino recorda que isso já pensou o desestimulou.
Ele não vão de herói pela vida, ademais de temer enfrentar toso os seus
companheiros. Se o pai observa que seu filho não fez o que o aconselhou, ao
final de dois meses, continuam o chamando de “Manolita” no colégio, o pai
começará a se angustiar muito mais que a mãe.
Um dia, o pai perguntará a seu filho: Não
amassou a cara do companheiro que te insulta, te chamando de “Manolita”? Se o
filho nega que tenha feito, é bastante provável que o pai o alfinete: “Que te
digam isso que está bem empregado, porque és uma marica”.
Junto ao apelido dos companheiros,
produziu-se uma nova situação, esta última muito mais grave. Se trata da
emergência do apelido de homossexual no contexto familiar – ainda que só seja
designativo -, o que pode se entender pelo menino como uma prova, por parte do
padre – a pessoa que mais importa ao menino -, que certifica e serve de
verificação ao apelido ocasional que foi qualificado pelos companheiros.
Logo, o rumor e os falatórios farão o que
falta para estender, intensificar e/ou assentar, quase de modo definitivo, esse
apelido. Como o menino não lutou contra o apelido – código de conduta usual no
contexto cultural -, é lógico que alguns infiram que ele está comportando de
acordo com o que o apelido significa.
[continua...]
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