JAMES MARTIN
E AS FALSAS PONTES
A propagação do erro, na história da Igreja,
por vezes, se repete, assumindo somente novas roupagens. Já houve um livro, com
teses condenadas, intitulado Building
Bridges (Construindo Pontes), escrito por um sacerdote e uma religiosa que, como filhos rebeldes, não
queriam assentir à doutrina imutável da Igreja sobre a “maldade intrínseca existente nos
atos homossexuais”. Em 13 de junho de 2017, o livro Building a Bridge: How the Catholic Church
and the LGBT Community Can Enter Into a Relationship of Respect, Compassion,
and Sensitivity (Construindo uma
Ponte: Como a Igreja Católica e a Comunidade LGBT podem entrar em um
relacionamento de respeito, compaixão e sensibilidade) foi lançado. Escrito
pelo conhecido padre jesuíta americano, James Martin, ele merece, de nossa
parte, alguns apontamentos.
O Pe. Martin, ressalte-se, é reconhecido por não
possuir posições ortodoxas em relação à homossexualidade. Já no início do
livro, ele faz questão de reconhecer a “comunidade LGBT” e sua existência. É
preocupante identificar um grupo baseado num rótulo embasado em uma orientação
sexual, e não olhando para a pessoa como um todo. Uma vez que essa definição de
comunidade surgiu do esquerdismo secular e não da Igreja Católica, ela deve ser
rejeitada, já que ninguém pode ser restritivamente definido por sua orientação
sexual. O Papa Emérito Bento XVI, quando prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, assim já havia sabiamente colocado:
“A
pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não pode definir-se
cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua orientação sexual. Toda
e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades
pessoais, mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos e
dons próprios. A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto
de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a considerar a pessoa
meramente como um “heterossexual” ou um “homossexual”, sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental:
ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna.” (Carta Homosexualitatis Problema aos bispos da
Igreja Católica sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais, 1986).
O livro continua demostrando que o Pe. Martin adotou
uma visão falsa da compaixão e da misericórdia. Como é próprio de alguém que
possui muitos posicionamentos heterodoxos, ele pede que as palavras que
descrevem a homossexualidade no Catecismo sejam alteradas. Ele diz: Uma maneira de ser sensível é considerar a
linguagem que usamos. Alguns bispos já pediram que a Igreja pusesse de lado a
frase “objetivamente desordenada” quando se trata de descrever a inclinação
homossexual (como é no Catecismo, nº 2358). A frase refere-se à orientação, não
à pessoa, mas ainda é desnecessariamente dolorosa. Isso é especialmente estranho
porque no início do livro ele diz: Como
você provavelmente sabe, o Catecismo da Igreja Católica diz que os católicos
são chamados a tratar os homossexuais com “respeito, compaixão e sensibilidade”
(n. 2358). Pois bem. Além de citar seletivamente o Catecismo, ele nunca
fala sobre as pessoas homossexuais saindo do pecado e vivendo um estilo de vida
casta. Ele fala sobre a construção de uma ponte, mas parece nunca dar uma razão
para tanto e, se o desse, essa razão certamente não seria católica. Ele nunca
se refere, como a Igreja o faz tradicionalmente, ao estilo de vida gay e aos
atos homossexuais como pecaminosos. Do ponto de vista católico, se qualquer
ponte deve ser construída para as pessoas com atração pelo mesmo sexo (AMS), é
para salvá-las desse estilo de vida, não encorajá-las a viverem dessa forma; e
para incentivá-las a viver a castidade, e não a violar essa virtude.
Vejamos o que diz a Congregação
para a Doutrina da Fé, em documento que será transcrito a seguir a esta
matéria: “(...) a propagação de erros e
ambiguidades não é coerente com um comportamento cristão de verdadeiro respeito
e compaixão: as pessoas que se
confrontam com a homossexualidade têm o direito, não menos que as outras, de
receber o ensinamento autêntico da Igreja da parte de quem pastoralmente as
acompanha.” Essa é a verdadeira misericórdia: buscar a salvação do
outro, não enganá-lo com uma falsa doutrina e uma falsa esperança. Dizer a
verdade – com caridade e respeito – mas a verdade, que não muda, mostrando-lhe
como viver a castidade e as outras virtudes cristãs. A ponte que salva é a Cruz, e nenhuma outra tem esse poder. Fugir da cruz, fugir da vivência das virtudes, querer mudar a doutrina da Igreja, é construir uma ponte fraca, que certamente quebrará e levará os que dela se servirem ao abismo.
O livro do Pe. Martin, infelizmente, não vai
ajudar em nada às pessoas com AMS (atração pelo mesmo sexo). Tudo o que ele
fará é confundir os fiéis e obscurecer o limite entre a heresia e a ortodoxia.
Não leia o livro do Pe. Martin se estiver procurando ajuda sobre essa questão.
Como católicos, devemos nos voltar para a Escritura, para a Tradição e para os
ensinamentos perenes provenientes da Santa Sé.
Idéias semelhantes às do Pe. Martin foram
propagadas e condenadas anteriormente pelo Vaticano. O New Ways Ministry (Ministério Novos Caminhos), fundado em 1977 nos
Estados Unidos, pregava o que alguns grupos ditos católicos também espalham, em
nossos dias, entre pessoas homossexuais incautas. Enganosamente, disseminam o
erro de que a doutrina perene da Igreja é mutável no que se refere ao estilo de
vida homossexual e aos atos homossexuais. Vale, nesse sentido, trazer para
leitura o documento de condenação de seus fautores e de suas teses em
contradição com o que é lecionado pela Igreja Católica, como Mãe sábia e misericordiosa que é.
CONGREGAÇÃO
PARA A DOUTRINA DA FÉ
NOTIFICAÇÃO
SOBRE A AÇÃO PASTORAL
DE IRMÃ JEANNINE GRAMICK, S.S.N.D.
E O PADRE ROBERT NUGENT, S.D.S.
DE IRMÃ JEANNINE GRAMICK, S.S.N.D.
E O PADRE ROBERT NUGENT, S.D.S.
Há mais de vinte anos que a Ir.
Jeannine Gramick, S.S.N.D., e o Pe. Robert Nugent, S.D.S., se dedicam a atividades
pastorais destinadas a pessoas homossexuais. Em 1977 ambos fundaram, no
território da Arquidiocese de Washington, a organização New Ways Ministry,
com o fim de promover «justiça e reconciliação entre lésbicas e homossexuais
católicos e a mais vasta comunidade católica».[1]
São autores do livro Building Bridges: Gay and Lesbian Reality and the
Catholic Church (Mystic: Twenty-Third Publications, 1992) e publicaram o
volume Voices of Hope: A Collection of Positive Catholic Writings on Gay and
Lesbian Issues (Nova Iorque: Center for Homophobia Education, 1955).
Desde o princípio, ao apresentar
o ensinamento da Igreja sobre a homossexualidade, o Padre Nugent e a Irmã Gramick puseram repetidamente em discussão
elementos centrais do mesmo. Por isso em 1984, o atual Cardeal James Hickey,
Arcebispo de Washington, depois de uma inútil série de tentativas de
esclarecimento, comunicou-lhes que no futuro não poderiam exercer as suas atividades
nessa Arquidiocese. Ao mesmo tempo, a Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica ordenou-lhes que abandonassem de
forma completa a New Ways Ministry, acrescentando que não poderiam exercer qualquer apostolado
sem apresentar fielmente a doutrina da Igreja sobre a maldade intrínseca
existente nos atos homossexuais.
Não obstante esta intervenção da
Santa Sé, o Padre Nugent e a Irmã Gramick continuaram a envolver-se em atividades
organizadas pela New Ways Ministry, embora se tenham demitido de
posições de responsabilidade. Continuaram igualmente a manter e a difundir posições
ambíguas sobre a homossexualidade, criticando de forma explícita documentos do
Magistério da Igreja sobre este tema. Em virtude de certas declarações e atividades
dos mesmos, quer a Congregação para a Doutrina da Fé quer a Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica receberam
numerosas deplorações e urgentes pedidos de esclarecimento por parte de Bispos
e de outras pessoas dos Estados Unidos da América. Era evidente que as atividades
da Irmã Gramick e do Padre Nugent estavam criando problemas em numerosas
dioceses e que os mesmos continuavam a apresentar a doutrina da Igreja como uma
opção possível entre outras, e susceptível de mudanças fundamentais.
Em 1988 a Santa Sé instituiu uma
Comissão, sob a Presidência do atual Cardeal Adam Maida, para estudar e avaliar
as declarações e atividades públicas dos referidos religiosos e se pronunciar
sobre a sua conformidade com a doutrina católica em tema de homossexualidade.
Com a publicação de Building
Bridges, o exame da Comissão passou a concentrar-se sobretudo nessa obra,
uma vez que sintetiza as atividades e ideias dos autores. Em 1994 a Comissão
publicou as suas conclusões, que foram comunicadas aos dois interessados. Tendo
recebido as respostas que os mesmos deram a essas conclusões, a Comissão
formulou as suas Recomendações finais, que transmitiu à Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Embora
reconhecendo a existência de alguns aspectos positivos no apostolado da Irmã
Gramick e do Padre Nugent, a Comissão deparou-se todavia com graves lacunas nos
seus escritos e atividades pastorais, incompatíveis com a integridade da moral
cristã. A Comissão recomendou, portanto, medidas disciplinares, entre as quais
a publicação de uma espécie de Notificação, com a finalidade de
equilibrar e remediar a funesta confusão criada pelos erros e ambiguidades
existentes nessas publicações e atividades.
Dado que os problemas levantados
pelos dois autores eram, primordialmente, de natureza doutrinal, a Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica
transmitiu em 1995 a inteira questão à competente Congregação para a Doutrina
da Fé. Tendo chegado a este ponto, e na esperança de que o Padre Nugent e a
Irmã Gramick estivessem dispostos a dar o seu assenso à doutrina católica sobre
a homossexualidade e a corrigir os erros existentes nos seus escritos, a
Congregação empreendeu uma nova tentativa de solução, convidando-os a responder
com clareza a determinadas perguntas relativas à posição dos mesmos acerca da
moralidade dos atos homossexuais e sobre a inclinação homossexual.
As respostas por eles enviadas a
22 de Fevereiro de 1996 não foram suficientemente claras para dissipar as
sérias ambiguidades da sua posição. A
Irmã Gramick e o Padre Nugent demonstravam ter uma clara compreensão conceituai
do ensinamento da Igreja sobre a homossexualidade, mas abstinham-se de formular
qualquer adesão ao mesmo. Além disso, o livro Voices of Hope: A
Collection of Positive Catholic Writings on Gay and Lesbian Issues, por
eles publicado em 1995, pôs em evidência o fato de que não se havia atuado
qualquer mudança na sua oposição a elementos fundamentais da doutrina da
Igreja.
Tendo em consideração o fato de
que algumas das declarações do Padre Nugent e da Irmã Gramick eram claramente
incompatíveis com o ensinamento da Igreja e que a vasta difusão desses erros, através
das suas publicações e atividades pastorais, se havia tornado uma fonte de
crescente preocupação para os Bispos dos Estados Unidos da América, a
Congregação decidiu que o caso fosse resolvido com o procedimento previsto no
seu Regulamento para o exame das doutrinas (cap. 4).[2]
Na Sessão Ordinária de 8 de
Outubro de 1997, os Cardeais e Bispos que constituem a Congregação concluíram
que as declarações do Padre Nugent e da Irmã Gramick, identificadas segundo o
procedimento do Regulamento para o exame das doutrinas, eram de fato erróneas
e perigosas. Tendo o Santo Padre consentido com a interpelação formal dos
autores, tais afirmações erróneas foram-lhes transmitidas através dos
respectivos Superiores-Gerais. Pediu-se-lhes que respondessem pessoal e
separadamente, de modo a poderem exprimir com maior liberdade as suas próprias
posições.
Em Fevereiro de 1998 os dois
Superiores-Gerais transmitiram as respostas à Congregação. Nas Sessões
Ordinárias de 6 e 20 de Maio de 1998, os Membros da Congregação examinaram
atentamente as respostas, depois de terem recebido também os pareceres de
alguns membros do Episcopado dos Estados Unidos e de especialistas em teologia
moral. Os membros da Congregação foram unânimes em considerar inaceitáveis as
respostas dos religiosos em questão, embora essas contenham elementos
positivos. Quer o Padre Nugent quer a Irmã Gramick procuraram justificar a
publicação dos seus livros e nenhum dos dois manifestou, em termos
suficientemente claros, adesão pessoal à doutrina da Igreja em matéria de
homossexualidade. Foi, portanto, decidido que os mesmos deveriam preparar uma
declaração pública, a submeter ao exame da Congregação. Pedia-se-lhes que nessa
declaração manifestassem um assenso interior ao ensinamento da Igreja católica
sobre a homossexualidade e reconhecessem que os dois livros supramencionados
contêm erros.
As duas declarações, recebidas
pela Congregação em Agosto de 1998, foram examinadas na sua Sessão Ordinária de
21 de Outubro de 1998. Mais uma vez não foram consideradas suficientes para
solucionar os problemas criados com os escritos e as atividades pastorais dos
autores. A Irmã Gramick, embora manifestasse o seu amor pela Igreja,
simplesmente recusava expressar qualquer seu assenso ao ensinamento da Igreja
sobre a homossexualidade. O Padre Nugent era mais completo na sua resposta, mas
não totalmente claro na sua declaração de assenso interior ao ensinamento da
Igreja. Assim, os membros da Congregação decidiram dar ao Padre Nugent uma nova
oportunidade para exprimir um assenso claro. A Congregação preparou então uma
declaração de assenso, transmitindo-a ao interessado, através do seu
Superior-Geral, em carta de 15 de Dezembro de 1998, pedindo-lhe que a
assinasse. A resposta de 25 de Janeiro de 1999 demonstrara que também esta
tentativa não havia surtido efeito. O
Padre Nugent não assinara a declaração e propunha um texto alternativo que,
nalguns pontos importantes, modificava a declaração da Congregação.
Nomeadamente, não estava disposto a
aceitar que os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados e acrescentava
um parágrafo que punha em dúvida a natureza definitiva e imutável da doutrina
católica neste ponto.
Vendo assim malogradas as
repetidas tentativas das legítimas autoridades da Igreja no sentido de
solucionar os problemas criados pelos escritos e atividades pastorais dos dois
autores, a Congregação para a Doutrina da Fé vê-se obrigada a declarar, para
bem dos fiéis católicos, que as posições
expressas pela Irmã Jeannine Gramick e pelo Padre Robert Nugent em relação à
maldade intrínseca dos atos homossexuais e à desordem objetiva da inclinação
homossexual são doutrinariamente inaceitáveis, por não transmitirem com
fidelidade o preclaro e constante ensinamento da Igreja católica acerca deste
ponto.[3]
O Pe. Nugent e a Ir. Gramick
afirmaram várias vezes que procuram, de harmonia com a doutrina da Igreja,
tratar as pessoas homossexuais «com respeito, compaixão e delicadeza».[4]
Ora, a propagação de erros e
ambiguidades não é coerente com um comportamento cristão de verdadeiro respeito
e compaixão: as pessoas que se confrontam com a homossexualidade têm o direito,
não menos que as outras, de receber o ensinamento autêntico da Igreja da parte
de quem pastoralmente as acompanha. As ambiguidades e os erros da posição
do Padre Nugent e da Irmã Gramick criaram confusão entre os católicos e
prejudicaram a comunidade da Igreja. Por tais motivos, proíbem-se
permanentemente a Ir. Jeannine Gramick, S.S.N.D., e o Pe. Robert Nugent,
S.D.S., de exercerem qualquer atividade pastoral em favor das pessoas
homossexuais, não podendo os mesmos, por um período indeterminado, ser eleitos
para qualquer cargo nos respectivos Institutos religiosos.
O Sumo Pontífice João Paulo II,
na Audiência concedida a 14 de Maio de 1999, ao abaixo assinado Secretário,
aprovou a presente Notificação, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação,
mandando que fosse publicada.
Roma, Sede da Congregação, 31 de
Maio de 1999.
Joseph Card. RATZINGER
Prefeito
D. Tarcísio BERTONE, S.D.B.
Arcebispo Emérito de Vercelli
Secretário
NOTAS
[1] Voices
of Hope: A Collection of Positive Catholic Writings on Gay and Lesbian Issues (Nova
Iorque: Center for Homophobia Education, 1955), IX.
[2] Cf.
Congregação para a Doutrina da Fé, Agendi ratio in doctrinarum examine,
art. 23-27: AAS 89 (1997) 834.
[3] Cf. Gn
19, 1-11; Lv 18, 22; 20, 13; 1 Cor 6, 9; Rm 1, 18-32; 1
Tm 1, 10; Catecismo da Igreja Católica, nn. 2357-2359 e 2396;
Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Persona humana, 8 (AAS
68 [1976] 84-85); Carta Homosexualitatis problema (AAS 79
[1987] 543-554).